Workation: como unir trabalho e viagem e quais são os desafios?

O movimento começou a surgir em 2016 em países como os Estados Unidos, onde não existem férias remuneradas. Mas, com o aumento das vagas remotas depois da pandemia, o modelo de trabalho tem se tornado uma tendência global — inclusive entre os brasileiros. 

Prova disso é que as pesquisas no Google para o termo “workation” cresceram mais de 450% em 2022 e continuam a subir. Por isso, uma coisa é certa: o workation veio para ficar e pode ser um grande diferencial para empresas que querem reter talentos e aumentar o nível de satisfação dos colaboradores.

Mas você já pensou quais são os desafios que o RH pode enfrentar para oferecer esse modelo de trabalho mais flexível? Continue a leitura e confira tudo o que você precisa saber antes de adotar o workation na sua empresa. 

O que é workation?

Workation é a união das palavras work (trabalho) e vacation (férias). É um modelo de trabalho flexível que permite ao trabalhador tirar férias enquanto continua trabalhando. O destino pode ser no exterior ou em seu país de residência e pode durar de alguns dias a vários meses.

A prática também é conhecida como workholiday ou workoliday e pode ser resumida como “trabalhar fora do trabalho”. Nesse caso, o colaborador se afasta do local físico da empresa, mas não do trabalho em si, já que continua responsável por suas atividades.

De maneira geral, existem três principais tipos de workation:

Workation de curto prazo

O workation de curto prazo dura apenas alguns dias e acontece em uma área próxima ao local de trabalho habitual. Nesse caso, a viagem pode ocupar dois ou três dias no meio da semana e, geralmente, tem um destino específico, como viagens de família, praias ou parques temáticos.

Workation de médio prazo

O workation de médio prazo dura entre uma semana e três meses e envolve viagens mais distantes. Esse é um caso comum para trabalhadores que fazem mochilões por diversos lugares do mundo, por exemplo. 

Workation de longo prazo

O workation de longo prazo pode durar vários meses ou até mesmo alguns anos. Nesse caso, o trabalhador se muda temporariamente para outro local (geralmente, outro país) e continua a trabalhar remotamente.

Veja também: Os melhores benefícios flexíveis para trabalhadores em workation

Qual a diferença entre workation e trabalho remoto?

Apesar de serem modelos de trabalho parecidos, workation e trabalho remoto não são a mesma coisa. Isso porque, no trabalho remoto, o funcionário está distante de forma definitiva, enquanto no workation ele pode estar fora da empresa apenas pelo período da viagem.

Além disso, durante o workation a empresa também pode optar por um regime de trabalho mais flexível que o habitual, permitindo que o funcionário trabalhe apenas meio período ou sob demanda para poder aproveitar o local da viagem.

Quem pode fazer workation?

Qualquer pessoa cujo trabalho possa ser feito de maneira remota sem que isso afete seu resultado pode fazer um workation. Esse modelo de trabalho é comum para pessoas que trabalham no computador, por exemplo.

Mas, além da função de trabalho em si, também é importante que o trabalhador tenha senso de autogestão e capacidade de sincronizar a comunicação com os outros membros da equipe digitalmente, mantendo um cronograma de trabalho organizado.

Quais são os benefícios do workation?

Se engana quem pensa que o workation traz vantagens apenas para o profissional. Na verdade, quando existe um planejamento adequado, tanto empresa quanto colaborador podem sair muito beneficiados dessa experiência

Veja alguns dos principais benefícios para cada um dos lados:

Para a empresa

A principal vantagem do workation para a empresa é a retenção de talentos. De acordo com as últimas pesquisas, cerca de 40% dos trabalhadores brasileiros aceitariam trocar de emprego apenas pela possibilidade de fazer home office, por exemplo.

Outros benefícios do workation para o empregador são:

• Redução da rotatividade de funcionários;
• Fortalecimento da cultura corporativa;
• Aumento da satisfação dos colaboradores;
• Promoção da diversidade cultural na equipe;
• Redução dos afastamentos por burnout, estresse e ansiedade;
• Melhora da qualidade do trabalho produzido;
• Redução de custos com espaço físico de trabalho.

Além de melhorar a qualidade de vida do colaborador, o workation também pode trazer retornos financeiros para a empresa muito além da economia. Afinal, trabalhadores mais satisfeitos também são mais motivados e engajados, contribuindo para o crescimento geral dos resultados do negócio.

Para o colaborador

Para o colaborador, a grande vantagem do workation é a liberdade de poder conciliar as obrigações profissionais com a possibilidade de conhecer novos lugares e culturas.

Outros benefícios do workation para o funcionário são:

• Redução do nível de estresse;
• Impacto positivo na saúde física e mental;
• Aumento da produtividade;
• Melhora da criatividade;
• Possibilidade de horário flexível;
• Redução do tempo gasto no trânsito;
• Equilíbrio entre vida profissional e pessoal.

Mas, acima de tudo, o maior diferencial do workation é permitir que os trabalhadores possam ter mais qualidade de vida sem precisar abrir mão da carreira, se tornando não apenas funcionários mais produtivos, como pessoas mais felizes.

Quais são os desafios do workation?

Ainda que traga uma série de vantagens, o workation também pode representar grandes desafios — especialmente para o setor de recursos humanos. 

Isso porque, apesar de combinar a ideia de trabalho e lazer, o workation é um período de trabalho. Por isso, é importante existir um alinhamento muito claro de expectativas de demanda e disponibilidade entre empregador e empregado.

Nesse cenário, os principais desafios que podem ser enfrentados são:

• Canais de comunicação: a comunicação através das plataformas digitais já é uma realidade da grande maioria das empresas. Ainda assim, é importante definir os canais para que o time presencial e a distância possam se conectar com facilidade quando necessário.

• Diferenças de fuso horário: esse pode ser um problema para profissionais que se deslocam para outros países. Por isso, caso seja mantido algum tipo de comunicação síncrona, é importante garantir que elas possam ser alinhadas ao horário de trabalho geral.

• Horário de trabalho: muitas empresas abrem mão da jornada fixa de trabalho para profissionais em workation. Nesse caso, é preciso definir com antecedência quais reuniões devem ser realizadas de forma síncrona, em quais situações o colaborador será contatado, etc. 

• Gestão de tempo e de trabalho: no caso de trabalhadores com jornada de trabalho flexível durante a viagem, é necessário garantir que o colaborador tenha facilidade em fazer autogestão de tempo e demandas. 

• Equilíbrio entre viagem e trabalho: em locais onde você costuma ir a lazer, pode ser mais difícil manter o foco e o total comprometimento com suas funções. Por isso, é importante criar um planejamento para o colaborador poder cumprir suas demandas e ainda ter uma folga para aproveitar o destino.

Quais são as implicações jurídicas do workation?

Não existe nenhuma lei trabalhista que regulamente o workation. Por isso, apesar de combinar o período de trabalho com um período de férias, a prática deve ser considerada um período normal de trabalho, já que o trabalhador continua realizando suas atividades e sendo demandado.

Ou seja, o workation não pode substituir as férias remuneradas garantidas pela legislação trabalhista. O princípio básico do direito ao descanso é que o colaborador possa se afastar totalmente das atividades profissionais, o que não acontece nesse caso.

Como período normal de trabalho, é obrigatório que a empresa mantenha a remuneração e os recolhimentos durante o período de workation, assim como é seu direito exigir que o colaborador continue exercendo suas funções. 

Entretanto, é possível ajustar algumas condições a partir de negociações coletivas, como:

• Flexibilidade no controle de jornada;
• Manutenção do pagamento do valor referente ao adicional de periculosidade ou insalubridade pagos habitualmente;
• Redefinição das metas e pagamentos de salário variável; 
• Responsabilização por atos acontecidos ao empregado fora da vigilância do empregador; 
• Obrigações e deveres sobre o dispositivo utilizado para o trabalho remoto.

🚨 Atenção! Independente do que for acordado entre empresa e colaborador, o ideal é que seja formalizado através de aditivos na forma escrita para resguardar a empresa de processos trabalhistas no futuro.

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