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Leis trabalhistas

Entenda o que é a desoneração da folha de pagamento 

A desoneração da folha de pagamento reduz o custo de empresas com a contratação de funcionários, visando incentivar a geração de empregos e a competitividade. Mas desde maio de 2024, o mecanismo sofreu um revés. Entenda a situação.

Criado em

Atualizado em

por Izabela Linke

Leia em 11 minutos

Foi em 2011 que a desoneração da folha de pagamento surgiu no Brasil para substituir a contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento de 17 setores da indústria por um percentual do faturamento. A medida visava trazer mais contratos de trabalho formal, já que nosso país é famoso pela informalidade no mercado de trabalho.

Entretanto, em maio de 2024, o governo vetou a prorrogação da desoneração, que duraria até 2027. Muitas idas e vindas aconteceram e, consequentemente, o assunto traz muitas dúvidas aos empresários.

Neste artigo, nós explicamos detalhes sobre a desoneração da folha de pagamento para você entender suas vantagens, críticas e como está a atual situação da política criada há cerca de 13 anos. Continue a leitura!

O que é a desoneração da folha de pagamento?

A desoneração da folha de pagamento foi criada para aliviar a carga tributária das empresas. Ao reduzir esses encargos, a ideia é diminuir os custos de contratação e estimular a criação de empregos e o crescimento econômico.

Em vez de pagar a contribuição sobre 20% da folha de pagamento, as empresas podem optar por contribuir com um percentual sobre a receita bruta (que varia de 1 a 4,5% dessa receita), uma base de cálculo diferente. Esse percentual varia de acordo com o setor e o regime de desoneração.

Inicialmente, a desoneração foi aplicada a vários setores da economia, como tecnologia da informação, call centers, e transporte. A lista de setores e as regras podem mudar ao longo do tempo, conforme a legislação vigente.

Vale entender que a folha de pagamento de um negócio refere-se ao total de salários e encargos sociais que uma empresa paga aos seus funcionários. No Brasil, além dos salários, as empresas precisam pagar contribuições sociais e impostos sobre a folha, como o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).

Assim, a desoneração da folha de pagamento ajudava a reduzir a informalidade no mercado de trabalho e aumentar a competitividade das empresas, já que os custos com mão de obra diminuem. 

No entanto, também pode impactar negativamente a arrecadação de tributos para a seguridade social, uma vez que o financiamento da previdência pode ser reduzido.

O que diz a lei sobre desoneração da folha de pagamento?

A Lei de número 12.546, de 14 de dezembro de 2011, é quem trata da desoneração da folha de pagamento. Sobre ela, é relevante saber que ela substitui a contribuição previdenciária patronal (20% sobre a folha de pagamento) por uma contribuição sobre a receita bruta de determinadas empresas.

Além disso, alguns pontos merecem detalhamento:

  • Substituição da contribuição: empresas de setores específicos substituem a contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento por uma alíquota sobre a receita bruta.
  • Setores abrangidos: inclui tecnologia da informação, call centers, transporte, construção civil, vestuário, entre outros.
  • Alíquotas: as alíquotas variam conforme o setor e são definidas periodicamente pelo governo.
  • Objetivo: reduzir os custos de contratação de mão-de-obra, incentivar a formalização do emprego e aumentar a competitividade das empresas brasileiras.

Já em 2015, uma nova lei trouxe ajustes na questão da desoneração da folha, foi a Lei de número 13.161 e os pontos mais marcantes são:

  • Alterações nas Alíquotas: aumentou as alíquotas da contribuição sobre a receita bruta para vários setores.
  • Opção pela Desoneração: permitiu que as empresas optassem pela desoneração ou pela contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento.
  • Setores abrangidos: continuou a incluir setores como TI, call centers, transporte, construção civil, entre outros.
  • Vigência: especificou prazos e condições para a aplicação das novas alíquotas.

Quem tem direito à desoneração da folha de pagamento?

A desoneração da folha de pagamento cobre cerca de 17 setores, sobretudo aqueles que fazem parte do ramo de serviços. São eles:

  • Calçados
  • Call center
  • Comunicação
  • Confecção e vestuário
  • Construção civil
  • Couro
  • Empresas de construção e obras de infraestrutura
  • Fabricação de veículos e carroçarias
  • Máquinas e equipamentos
  • Proteína animal
  • Projeto de circuitos integrados
  • Tecnologia da informação
  • Tecnologia de comunicação
  • Têxtil
  • Transporte metroferroviário de passageiros
  • Transporte rodoviário coletivo
  • Transporte rodoviário de cargas

É importante entender que as alíquotas reduzidas são apenas para remunerações de até um salário mínimo (R$ 1.640). Ou seja, se um trabalhador recebe um salário mínimo, a empresa vai pagar apenas a alíquota reduzida. 

Também é interessante explicar que os 17 setores foram selecionados com base em critérios que visam estimular áreas específicas da economia para diminuir os custos trabalhistas e estimular a competitividade das empresas brasileiras. 

Como funcionava a tributação das empresas antes da lei da desoneração?

Antes da desoneração da folha de pagamento, ou seja, até dezembro de 2011, a tributação das empresas brasileiras seguia as regras gerais de contribuição previdenciária patronal. 

Isso quer dizer que as empresas pagavam 20% sobre a folha de pagamento de seus funcionários para a previdência social. Essa contribuição era calculada com base no total de salários pagos aos empregados, incluindo adicionais, gratificações e outros benefícios.

Além da contribuição previdenciária, as empresas também estavam sujeitas a outros encargos trabalhistas, como FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), contribuições para o Sistema S (SENAI, SENAC, SEBRAE, etc.), e outros impostos e taxas vinculados à contratação de mão-de-obra.

Essas contribuições eram significativas e representavam uma parte considerável dos custos operacionais das empresas, impactando a competitividade e a capacidade de investimento no crescimento dos negócios.

Como é feito o recolhimento dos impostos?

Com a desoneração da folha de pagamento no Brasil, o recolhimento dos impostos é feito com base na receita bruta da empresa, em vez da folha de pagamento

Assim, as empresas dos setores contemplados devem calcular a contribuição previdenciária aplicando uma alíquota específica sobre sua receita bruta mensal. São esses os passos para o recolhimento dos impostos:

1. Calcule a receita bruta

É preciso determinar o valor total da receita bruta mensal.

2. Descubra a alíquota de sua empresa

As alíquotas variam entre 1% e 4,5% da receita bruta da empresa, dependendo do setor a que pertencem. 

3. Faça a aplicação da alíquota

Na sequência, é necessário aplicar a alíquota correspondente ao setor da empresa sobre a receita bruta. Lembre-se de que cada setor tem uma alíquota específica.

Por exemplo, TI e Call Centers têm, em geral, 2% de alíquota em cima da receita bruta.

4. Pague o valor da contribuição

O recolhimento do valor devido ao INSS é feito por meio de guias específicas chamadas DARF, sigla para Documento de Arrecadação de Receitas Federais.

A emissão da DARF é responsabilidade do setor contábil ou fiscal de uma empresa, e o pagamento da CPRB deve acontecer todo mês, com prazo máximo até o dia 20.

É necessário ainda que as empresas informem sobre suas contribuições na GFIP (Guia de Recolhimento do FGTS e de Informações à Previdência Social) e na EFD-Reinf (Escrituração Fiscal Digital de Retenções e Outras Informações Fiscais).

Na dúvida, busque um apoio de um contador ou algum consultor com essa expertise.

Desoneração da folha de pagamento 2024: quais as últimas atualizações

A desoneração da folha de pagamento estava prevista para chegar ao fim em dezembro de 2021, mas tivemos duas prorrogações: uma em dezembro de 2023 e outra para dezembro de 2027. Como essa última deixou de valer, claro que existe muito burburinho e dúvidas a respeito. 

De forma resumida, podemos dizer que o atual governo recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender a desoneração da folha que iria até 2027, considerando o déficit previdenciário que existe. 

Em abril de 2024, o Supremo Tribunal Federal suspendeu a desoneração da folha de pagamento que iria até 2027. Assim, o efeito seria imediato sobre os setores beneficiados.

O que acontece com o fim da desoneração da folha de pagamento?

Mesmo com o fim imediato da desoneração, houve muita polêmica e ela vai ter um fim gradual e híbrido, de acordo com o modelo proposto pelo governo. 

Isso quer dizer que o 13º salário dos colaboradores será desonerado até 2028. Também os setores vão começar a pagar alíquotas maiores ano a ano, o que tem sido chamado de reoneração da folha.

Basicamente é o seguinte: em 2024, o valor se mantém. No ano seguinte, a reoneração começa com 5% sobre a folha de pagamento. Em 2026, esse valor chega a 10%. Em 2027, vai para 15% e, em 2028, chega em 20%.

De qualquer forma, a questão da reoneração da folha de pagamento ainda é polêmica e podem existir novas reviravoltas.

Quais são as vantagens e desvantagens do fim da desoneração da folha de pagamento?

Toda nova política traz benefícios e desvantagens, e com a desoneração não é diferente. Nós falamos em detalhes a seguir.

As vantagens do fim da desoneração da folha de trabalho

Aumento da arrecadação

Com o retorno da contribuição previdenciária, o governo espera aumentar a arrecadação de impostos, essencial para financiar programas sociais e infraestrutura.

A medida também deve ajudar a diminuir o déficit da Previdência Social, garantindo maior sustentabilidade financeira para o sistema previdenciário.

Equidade tributária

O fim da desoneração pode criar um ambiente mais justo, onde todos os setores contribuem de maneira equitativa, evitando que alguns segmentos tenham vantagens fiscais desproporcionais.

Também promove a competitividade justa entre empresas, independentemente do setor, incentivando práticas de negócios mais eficientes e sustentáveis.

Simplificação administrativa

A eliminação de regimes especiais de tributação pode simplificar o sistema tributário, reduzindo a burocracia tanto para as empresas quanto para o governo na administração e fiscalização de tributos.

Outro ponto é a fiscalização tributária simplificada, pois todos os setores seguirão as mesmas regras, permitindo um controle mais eficiente das obrigações fiscais.

Incentivo à formalização

Com uma base de contribuição mais ampla, o governo pode criar políticas que incentivem a formalização do emprego, combatendo a informalidade e assegurando direitos trabalhistas aos empregados.

Planejamento e investimento

O aumento da arrecadação proporciona maior previsibilidade e estabilidade fiscal, permitindo ao governo planejar e investir em projetos de longo prazo com maior segurança.

Além disso, recursos adicionais devem ser direcionados para melhorar serviços públicos essenciais, como saúde, educação e segurança.

Agora, as desvantagens do fim da desoneração

Aumento dos custos para as empresas

As empresas terão que pagar uma contribuição maior sobre a folha de pagamento, aumentando seus custos operacionais, mesmo que isso aconteça gradualmente.

Essa elevação pode afetar o fluxo de caixa das empresas, especialmente aquelas que operam com margens de lucro reduzidas.

Impacto na geração de empregos formais

Empresas podem reduzir contratações ou até demitir funcionários para compensar o aumento dos custos trabalhistas, aumentando a taxa de desemprego.

Há ainda a chance de um aumento na informalidade, com empresários optando por não registrar funcionários no regime de CLT. Isso, claro, se o governo não criar políticas que estimulem a formalidade.

Menos investimentos

O aumento dos custos da folha de pagamento talvez reduza a capacidade das empresas de investir em expansão, inovação e modernização.

Assim, novos empreendedores podem ser desestimulados a iniciar negócios devido aos altos custos de contratação de mão-de-obra formal.

Impacto em setores sensíveis

Setores que dependem intensivamente de mão de obra, como construção civil, tecnologia da informação e transporte, podem ser particularmente afetados, enfrentando maior pressão financeira.

A desoneração da folha de pagamento ainda deve ter algumas reviravoltas. O fato de ela acontecer gradualmente é interessante para a gente entender os impactos e como o governo deve criar manobras que sanem as dores que venham a surgir. 

O fato é que ele deve impactar as empresas e a sociedade, entretanto, sabemos que o déficit previdenciário é um problema que precisa ser sanado.

Aproveite para ler também o nosso Guia do Fim do Ano Fiscal: o que você precisa saber quando chega esse período e deixe tudo em ordem para cumprir com as obrigações da empresa.

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Izabela Linke

Conteúdo

Jornalista, redatora e revisora que adora ouvir e contar histórias. Cuidando do marketing de conteúdo da Caju, tem como missão levar informação de valor para a área de gestão de pessoas e contribuir para um mercado cada vez mais inovador e humano.

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